Não temos consciência do nosso próprio orgulho. A vida cotidiana costuma ser chata e não temos consciência disso. Coisas como pagar as contas, pegar um ônibus, ir ao médico, atravessar a rua. A vida é principalmente silenciosa e em preto e branco. Não há nada de errado com isso. Nós não estamos em uma festa o tempo todo. A vida precisa disso para estar em equilíbrio. O equilíbrio da vida é manter as coisas estáveis. E onde está o orgulho nisso tudo? Bem, não percebemos, mas estamos nos restringindo constantemente. E aí vem o orgulho. Mas deixe-me contar uma história sobre mim. Histórias são sempre maneiras incríveis de encontrar um caminho, um sentido em nossas vidas. A vida parece chata. As histórias tornam a vida um pouco mais colorida. Quando me mudei para Portugal, decidi blogar profissionalmente. Não exatamente ser um blogueiro, mas me lançar no mercado de freelancers. Um mercado extremamente competitivo. Naquela época, eu procurava trabalhos em Língua Portuguesa. Pois é, a língua original do Brasil e de outros 7 países da América do Sul, África e Europa e parte da Ásia. O português não é tão popular como sua irmã, a espanhola, mas é a 6ª mais falada. Acabei de sair da Irlanda, onde trabalhei quase dois anos como garçom, para iniciar um mestrado em Cinema. Eu queria trabalhar em algo diferente, quer dizer, algo que pudesse explorar um pouco mais minhas habilidades criativas. Então comecei a trabalhar como freelancer. Em meio a isso, surgiu a seleção para trabalhar em uma empresa de eventos. Ele estava procurando atores para fazer parte de seu elenco. O emprego? Trabalhar com recreação, entretenimento, festas populares em pequenas cidades de Portugal continental (o território sem as ilhas), talvez Espanha. No dia em que fiz a entrevista, eles me contrataram e me convidaram para começar a trabalhar dois dias depois. Foi como um foguete, tão rápido, tão intenso. Meu primeiro emprego? Estátua viva. As pessoas pensariam: ah, é fácil! Apenas fique quieto e as pessoas começarão a jogar moedas no seu bolso! Quem, na Terra, disse que é fácil ficar totalmente quieto no meio de uma multidão? (bons tempos eram aqueles… faltava tanta gente livre para estar junto sem restrições…) Bom, foi a primeira vez que trabalhei com isso, estar atuando, de fato. Você precisará agir, caso contrário, você não será convincente. As pessoas precisam se conectar com sua imagem congelada, para que possam pensar que você é uma estátua. A mente tentará enganá-lo o tempo todo. A mente é louca. A mente precisa ser fechada constantemente, mesmo que você seja uma estátua viva ou não. Este era o trabalho da manhã. À tarde, eu era outro personagem. E no dia seguinte, outro. Só me lembro que terminei esse fim de semana louco, bêbado e feliz. Mas eu não estava feliz só porque estava bêbado. Fiquei feliz porque pude encontrar um trabalho onde pudesse interagir com pessoas diferentes o tempo todo e isso foi superando em mim o orgulho triste que constrói uma barreira entre nós e os outros. Uma parede invisível que calça nossos sapatos e nos deixa sozinhos, em “paz”. Paz? A paz é uma ilusão. A paz está dentro, não fora. O mundo pode ser um paraíso, mas se não estivermos felizes com nós mesmos, o mundo será um paradisíaco preto e branco, chuvoso e frio. A questão é que, quando você está atuando nas ruas, você é livre de roteiros. Você só tem um pequeno enredo, uma pequena história em sua mente que o ajudará a esclarecer suas ideias, seu comportamento, e você terá que usá-lo como ponto de partida para interagir com outras pessoas e alcançar o que deseja, ou seja, , principalmente, comédia. Ser engraçado nessas circunstâncias exige de si mesmo uma postura de que tudo o que pode aparecer na sua frente é simplesmente parte do jogo. Este jogo é a vida. Você enfrentará constantemente a rejeição. Mesmo em uma festa, procurando alguma diversão, escapismo, você lidará com pessoas que não estão abertas às suas piadas. Isso é perfeitamente normal e você tem que se desesperar do seu ego o tempo todo. Houve muitos momentos em que eu estava enfrentando alguém e não tinha ideia do que dizer em minha mente. Somente quando eu tinha esse pequeno enredo, eu poderia dizer algo para me conectar a eles e criar um efeito, promover um clima nela ou nele. Um enredo pode ser um argumento simples. Por exemplo, eu era um personagem como um fazendeiro. Ao meu lado, tinha outro ator que era minha esposa. O enredo é que ela estava comigo apenas por causa do meu dinheiro. Usamos essa história para criar um efeito no humor das pessoas. Tínhamos que criar sobre esse tema o tempo todo, para conectar, interagir, entreter. Levando isso para a vida, assumimos papéis o tempo todo. Em um mercado, podemos ser apenas clientes. Em uma escola, podemos ser professores, alunos ou faxineiros. A vida é um teatro. Conquistar os orgulhosos é o desafio para promover mudanças que transformarão seus relacionamentos. Eu tenho outro exemplo, e este não é feliz, mas é totalmente relevante para este artigo. O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro usou o termo “Maricas”, que é uma gíria para homossexuais semelhante a bicha para se referir ao país como “fraco ou fracassado”. Isso não foi apenas ofensivo e rude, mas uma demonstração gráfica de sua opinião sobre a população LGBT. Eu disse uma vez no facebook “Que o Brasil se mantenha como um país de ‘Maricas’. Sempre.". Isso bastou para uma familiar minha, seguidora indignada dele, vir ao meu comentário e me criticar as redes. Este pequeno incidente deu início a uma crise familiar. E por que estou falando sobre isso neste artigo? Porque precisamos não ter medo da crise, das discussões, dos conflitos. Eles estão lá para melhorar nossa percepção do mundo. Eles são perturbadores e difíceis. Mas precisamos deles para melhor nos conhecer. Em outras palavras, precisamos de nos expor a situações de conflito para fortalecer nossa vida interior e ter acesso a uma paz que cresce da coragem para a vida, para existir. Uma paz que é produto direto da nossa luta contra o orgulho que pode emperrar nossas vozes e congelar nossos próximos passos. Seja como atores de rua, procurando o próximo sorriso nos rostos de pessoas desconhecidas, seja como parte de uma família, geralmente com queridos problemáticos que achamos que conhecemos, encarar a verdade é estar acima do orgulho. Encarar a verdade é ser corajoso o suficiente para entender as imperfeições da vida e ficar bem com isso, mas com vontade de mudar. Mantenha as nuvens fora de você e deixe a pequena luz brilhar dentro de sua essência, como a música diz para fazer. Seja corajoso. Você merece mais do que preto e branco. Você merece amarelos, azuis, vermelhos e rosinhas (claro).