Crônicas da Áustria: comer, beber e olhar – a comida, a cerveja e o brinde com o olhar

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A língua germânica da Áustria, pelo que pude perceber nos poucos dias de convivência, é um pouco mais leve e “adocicada” do que a falada na Alemanha, mais forte, agressiva. As pessoas também são mais simpáticas, olham pra gente, receptivas, sorriem mais facilmente.

Cada país tem uma forma de se comunicar diferente (e este é apenas um recorte meu, bastante pessoal), e quando andamos de um canto para o outro vemos a diferença na maneira como cada um lida com o outro. Um teste que eu faço é andar na rua e perceber como as pessoas se notam, especialmente quando estamos num ambiente com nativos ou pessoas que já vivem ali há um bom tempo.

Na Irlanda, em Dublin, as pessoas são mais simpáticas nos bares, em ambientes fechados, mas nas ruas são muito receosas de invadir o espaço do outro, daí que para qualquer movimento em falso, quando passamos por elas, elas nos pedem desculpas (“Sorry!”).

Lembro bem de quando morava por lá e eu mesmo me via pedindo desculpas o tempo todo, bastava alguém vir na sua direção e a gente já se desculpa por isso (pra paquerar, flertar é horrível, esqueçam!).

Em Viena senti um pouco mais de abertura entre as pessoas e algumas tradições interessantes me chamaram a atenção, como no momento de brindar uma bebida: é preciso olhar nos olhos de quem estiver participando do brinde, como se fosse um gesto de atenção ao outro.

Como eu não fazia ideia disso, na primeira vez eu brindei olhando pra bebida, como costumamos fazer no Brasil e Portugal, depois foi que me alertaram para encarar os outros sem medo mesmo. Achei engraçadíssimo e quando o fiz, fiz questão de olhar com toda atenção, ao ponto de esbugalhar os olhos e mostrar que eu havia entendido essa tradição com todo exagero típico de meu jeito de ser.

Falar de viagens, pra mim, é falar de comida. Não sou taurino, mas comer pra mim é ainda melhor do que beber. Eu troco uma pinga por qualquer banquete, doce ou salgado, por isso fiz questão de em Viena comer mesmo comida tradicional, e me deparei com sanduíches de salsichas recheadas de queijo, uma delícia (não sei o nome, é em alemão, são quinhentas consoantes por palavra, eu tinha que ler pra poder dizer).

De manhã, eles têm o hábito de comer Muesli, um amontoado de cereais com leite e frutas, algo que é gostoso e saudável (mas prefiro cuscuz, como bom nordestino, embora eu tenha preguiça de mastigar comida logo de manhã cedo). Um tipo de cereal bastante utilizado na culinária vienense é a semente de papoula, que combinada com outras farinhas e ingredientes pode virar um belo bolo de “chocolate fake” (tem cara de chocolate, gosto de chocolate, mas é de papoula).

As saladas são marinadas, isto é, vêm com uma espécie de caldo que as deixa mais molhadinhas e suculentas. Os doces… meu amigo, são uma coisa de doido. Provei um apple strudle (strudel de maça) feito diretamente das mãos de uma Mutter (Mãe) vienense e saboreado com café.

O café é uma loucura à parte, tem de todo tipo, e lá eles são bem criativos na forma como se bebe um: eles usam nata batida (no Brasil seria o creme de leite, Portugal, a nata mesmo) para ser adicionada ao café, ou pode colocar uma bola de sorvete (gelado, Portugal) de nata ou baunilha, o que transforma o café num Affogato. Tudo muito gostoso.

Há o Kaiserchmarrn mit Puderzucker (ufa!) um preparado de pedaços de massa de panqueca que é servido com geleia de frutas vermelhas, para ser apreciado com um café. Lembro da minha última sobremesa, o Mandelcroissant, um croissant amanteigado feito no dia anterior, portanto, dormido, recheado com uma pasta de amêndoas, e também com uma cobertura de amêndoas picadas… gente, eu fiquei maluco, um dos melhores doces que eu comi na vida. Há também os tradicionais bombons de Mozart e os biscoitos Manner, que eu trouxe de lá e devorei em poucos dias.

Doce é a vida!

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