Construindo personsagens: Geni

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Em 1978, o musical Ópera do Malandro, escrito por Chico Buarque, ganhava os palcos do país; em 1986 era adaptado para o cinema. Dentre as várias faixas marcantes da obra, uma delas ganhou vida própria e entrou para o imaginário popular: Geni e o Zepelim.

A canção traz a história de uma personagem hostilizada pela comunidade onde vive e o verso “Joga pedra na Geni” até hoje é utilizado para sinalizar quando alguém está julgando e condenando outra pessoa pelo simples jeito de ela ser o que é.

Em 2019, começamos o processo criativo do espetáculo Morder-te o Coração e com ele o desafio de encarnar uma personagem que também fizesse parte do universo feminino retratado na obra, mas que subvertesse as regras do que esse “ser feminino” representava.

Surgiu uma mulher no corpo de um homem. Surgiu a “coitada, singela” e ao mesmo tempo “rainha dos detentos, das loucas, dos lazarentos”. Surgiu a devassa, autêntica, dolorida Geni.

Não foi fácil fazer, construir o personagem. Delicadeza, feminilidade, suavidade, atenção aos detalhes nos mais ínfimos gestos: eu não tinha nada disso. Com suor e muito sufoco, a Geni foi se desenhando no meu corpo, acostumado a muita palhaçada, um estilo vaudeville, expansivo, estabanado de ser.

Mas ela veio e ressignificou “meus pingos nos is”.

O mais triste é pensar que, passados mais de quarenta anos da estreia da música, diversas Genis por aí são condenadas, humilhadas, estupradas e assassinadas por simplesmente serem o que são: mulheres.

É por isso que o discurso de Geni ainda é válido, vivo, necessário. Uma denúncia contra a violência que mata milhões de mulheres todos os dias, especialmente as LGBTQIA+, que seguem desprotegidas e carentes de políticas governamentais efetivas para suas necessidades.

É por isso que essa dor é válida de ser revivida, através da Arte e seu poder transformador.

Você já jogou sua pedra hoje?

Acompanhe, sinta e compreenda (ou não) a Dor de Geni.

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2 respostas para “Construindo personsagens: Geni”

  1. Avatar de Joaquim Bezerra
    Joaquim Bezerra

    Que beleza, Fausto! Até Chico Buarque ficaria orgulhoso dessa interpretação.

    1. Avatar de creativefausto

      Obrigado Joaquim! Geni ainda hoje provoca polêmica e fascínio nas pessoas. Grande obra do Chicão! =)