Em março de 2022, comecei uma nova etapa na minha jornada profissional e pessoal: entrei para a Hippotrip, uma empresa de animação turística em Lisboa. Meu desafio: entreter as pessoas a bordo de um veículo híbrido, ônibus/autocarro e barco, que segue seu percurso nos principais pontos da cidade até o aguardado grand finale: as águas do Rio Tejo.
O desafio de “animar” pessoas, em minha carreira na Europa, é algo relativamente novo. No Brasil, trabalhei como jornalista em órgãos públicos e privados, em veículos e assessorias de comunicação. Saí do Brasil para a Irlanda e lá passei por diversas searas profissionais, como garçom, bartender, cuidador de idosos, entre outras. Lá também estudei Teatro, na Gaiety School of Acting, e Roteiro, por conta própria. Ao migrar para Portugal, trouxe a bagagem do Storytelling falado e escrito, seja artístico, seja organizacional.
Em Portugal, iniciei meu mestrado em Cinema, o que me deu uma boa noção do processo de construção de narrativas para o audiovisual. Ao chegar em Lisboa, passei a trabalhar pontualmente como animador de festas onde pude exercitar minha vocação enquanto artista.
Porém nada se compara à experiência de estar em um barco que cruza as ruas da maior cidade do país contando histórias, anedotas e a própria História de Portugal. Estar nessa posição requer muita responsabilidade e múltiplas habilidades que somente a vivência vai construindo dentro de nós. Ser animador turístico é ser um “Entertainer”, alguém capaz de entreter pessoas de todas as idades, bagagens e origens culturais.
Todos os dias, embora tenhamos um guião/roteiro fresquinho em mente para ser desenvolvido ao longo de 90 minutos, cada viagem é uma experiência única, particular. É um palco em movimento, em que temos de manter um personagem muito atrelado a nossa personalidade, capaz de deter a atenção do público enquanto o próprio público passeia pelas paisagens da cidade. É um desafio incessante atrair os olhares das pessoas sem interferir em sua contemplação.
Tive que aprender a História de Lisboa, a terra dos “Alfacinhas” e também do polêmico Marquês de Pombal, o ministro que divide opiniões entre seu papel na reconstrução pós terremoto 1755, e seu caráter autoritário. Atrelado a esse desafio, vinha a parte da comicidade, algo que eu já trazia dentro de mim, mas que precisava “incorporar ao universo lisboeta”. Eu era um brasileiro engraçado que precisava se aportuguesar para melhor se comunicar com a audiência local.
Hoje vejo que olhar nos olhos e treinar diariamente a empatia com pessoas de todas as idades e culturas é um desafio enriquecedor e que levarei para todas as searas profissionais da minha vida. Espero aqui poder compartilhar lições e aprendizados adquiridos ao longo dos meses nessa minha nova aventura. Afinal, viver é velejar para cada vez mais longe e como dizia aquela velha máxima: “os barcos não são feitos para o porto”. #storytelling ##empatia