Se no Brasil, e também Portugal, temos as praias como nosso paraíso de descarrego e elevação, na Áustria, especificamente em Viena, a “praia” é no Rio Danúbio, o mais famoso do país, com suas águas limpas (na maior parte).
O Danúbio foi modificado de modo que no meio dele foi construída uma espécie de ilha urbana, em grande parte livre de carros, para o proveito dos banhistas. No verão, o Danúbio se transforma numa verdadeira praia abarrotada de turistas e locais, que curtem o sol e a alta temperatura até boas horas da noite.
Mas atenção: grande parte do canal por onde o Danúbio passa tem águas profundas, então é preciso saber nadar. Esse foi um fato que eu achei muito estranho, já que estou acostumado a entrar no mar pela rasa faixa de areia.
Foi ao seguir para o meio do Danúbio que eu percebi que sabia nadar, embora suas águas sejam calmas. Ao longo do rio é possível pedalar com tranquilidade por uma extensa ciclovia. Aliás, Viena é repleta de ciclovias e ciclofaixas, que são fartamente utilizadas, por isso é preciso ter cuidado, especialmente na hora do rush: ciclistas tomam conta de todo espaço e qualquer vacilo pode causar acidente (e há multas para os desobedientes).
Do frenesi de Viena, partimos para as montanhas de Oberösterreich (ou Alta Áustria). Ao chegar por lá, preparem-se para ver belíssimas paisagens e acabar com a bateria e a memória de seu celular. Caminhar por montanhas é sempre um prazer (ou mesmo apenas caminhar, como eu já falei nO Caminho de Santiago: caminhar é sentir a vida aos poucos, dar tempo pra refletir ou pensar em nada). Longe do barulho do mundo, só nos resta parar e ouvir a própria respiração durante a caminhada.
Caminhamos por uma trilha bem esticada, longa, que exige preparação física (embora é possível chegar ao topo da montanha através de trem, com um preço salgado: 33 euros). A trilha, porém, nos presenteia belas paisagens e um silêncio profundo, cortado apenas pelo som do trem vermelho. Depois de um longo trecho por dentro da floresta, alcançamos uma área bastante espaçada, verde, de onde é possível enxergar toda a cadeia de montanhas azuis, inclusive um topo glacial, com neve o ano inteiro.
O dia estava perfeito, com um forte sol e nenhuma nuvem a encobrir os montes, com muito calor e pouco vento (ver as condições de clima pode ser um fator decisivo na hora de explorar as montanhas, ainda que elas também são belas quando encobertas pela neblina, que lhes dá um ar misterioso). Chegamos ao topo com a imensa cadeia de montanhas atrás de nós, mas eu não esperava que descer fosse tanto, ou ainda mais desafiador do que subir.
Quando fui descer, me deparei com a altura íngreme onde estava. Não foi fácil descer. Tive que não olhar para aquele mundo gigantescamente alto à minha frente e me concentrei em olhar apenas para baixo, apenas para o chão. O coração apertou um pouco, senti um friozinho na barriga e cheguei até a pôr uma música no celular para relaxar e me desconectar um pouco da sensação de estar num lugar tão alto e provavelmente perigoso.
Passo a passo, segui caminho pela colina abaixo, de vez em quando olhando para o horizonte, tentando administrar o receio de cair. Talvez a vida peça o mesmo de nós: às vezes precisamos apenas olhar para o próximo passo e esquecer do que está longe e que pode nos roubar o foco. Foi com calma que fiz o caminho de volta até chegar novamente ao interior da floresta e seguir pela trilha com serenidade.
E se a Áustria está no meio da Europa, bem longe do mar, seu interior é dotado de uma geografia excepcional, privilegiada, com lagos por toda parte e águas de um azul-turquesa fora do comum. As águas são limpas e transparentes, embora frias (mas nem tanto, principalmente durante o verão e início do outono).
No entanto, grande parte das zonas e espaços de lagos em cidades austríacas vem sendo devorada pela especulação imobiliária. A privatização desses espaços vem reduzindo as áreas permitidas ao banho, que são ocupadas por grandes empreendimentos ou propriedades privadas. É preciso andar um pouco para encontrar espaços com livre acesso.
Nos hospedamos num imenso camping (acampar é a forma mais barata de se alojar por essas bandas e caso você esteja com planos de viajar e a grana for curta, invista numa barraca, colchão inflável e um bom saco de dormir). Dentro do camping, um belo lago com um píer pronto para qualquer um correr e se jogar nas suas águas frias (e revigorantes).
Aliás, banho frio, seja em praia, rio ou lago, é um santo remédio, capaz de curar tudo ou de dar aquele gás pra voltar pro mundo com mais energia e vigor. Eu não sabia o quanto era bom nadar em lagos e rios (limpos, claro). Rios limpos são uma raridade no Brasil de hoje, porém eram abundantes nos tempos de nossos avós.
E antes de regressar a Viena, fizemos uma parada na cidade berço do Mozart, Salzburg, que também é cortada por um rio, o Salzach. A casa do famoso compositor erudito é hoje um museu (mas não chegamos a entrar, preferimos andar por suas ruas e comer alguns pretzels, uns pãezinhos são de outro mundo).
Para quem tiver mais tempo, vale a pena dormir uma ou duas noites e conhecer melhor um pouco dessa cidade que reverencia seu passado e atrai turistas do mundo todo (ouvimos bastante o português do Brasil por algumas ruas… estamos em todo lado). De lá, um trem para Viena nos trouxe do mundo surreal e onírico das montanhas para de volta ao vuco-vuco de uma grande e cosmopolita cidade.
Agora, estou aprendendo alemão… é cada palavrão que vocês não têm ideia, mas aprender um novo idioma é outra maneira de viajar pelo mundo, de conhecer uma nova cultura e se conectar com pessoas diferentes. Até a próxima viagem!
Vielen Dank! Tschüss!!!